O EAS é divido em duas partes. A primeira é feita através de reações químicas e
a segunda por visualização de gotas da urina pelo microscópio.
Na primeira parte mergulha-se uma fita na urina, chamada de dipstick, como as
que estão na imagem abaixo.

No exame de urina cada fita possuiu vários quadradinhos coloridos
compostos por substâncias químicas que reagem com determinados elementos da
urina. Esta parte é tão simples que pode ser feita no próprio consultório
médico. Após 1 minuto, compara-se a cores dos quadradinhos com uma tabela de
referência que costuma vir na embalagem das próprias fitas do EAS.
Através destas
reações e com o complemento do exame microscópico, podemos detectar a presença e
a quantidade dos seguintes dados da urina:
- Densidade
- pH
- Glicose
- Proteínas
- Hemácias (sangue)
- Leucócitos
- Cetonas
- Urobilinogênio e bilirrubina
- Nitrito
- Cristais
- Células epiteliais e cilindros
Os resultados do dipstick são
qualitativos e não quantitativos, isto é, a fita
identifica a presença dessas substâncias citadas
acima, mas a quantificação é apenas aproximada. |

Análise do exame de urina
|
O resultado é normalmente fornecido em uma graduação de
cruzes de 1 a 4. Por exemplo: uma urina com "proteínas 4+" apresenta grande
quantidade de proteínas; uma urina com "proteínas 1+" apresenta pequena
quantidade de proteínas. Quando a concentração é muito pequena, alguns
laboratórios fornecem o resultado como "traços de proteínas".
Vamos, então, aos valores de referência:
a) Densidade:
A densidade da água pura é igual a 1000. Quanto mais próximo deste valor, mais
diluída está a urina. Os valores normais variam de 1005 a 1035. Urinas com
densidade próximas de 1005 estão bem diluídas; próximas de 1035 estão muito
concentradas, indicando desidratação. Urinas com densidade próxima de 1035
costumam ser muito amareladas e normalmente possuem odor forte (Clique
aqui e saiba mais sobre urina com cheiro forte).
A densidade indica a concentração das substâncias sólidas diluídas na urina,
sais minerais na sua maioria. Quanto menos água houver na urina, maior será sua
densidade.
b) pH:
A urina é naturalmente ácida, já que o rim é o principal meio de eliminação dos
ácidos do organismo. Enquanto o pH do sangue costuma estar em torno de 7,4, o pH
da urina varia entre 5,5 e 7,0, ou seja, bem mais ácida.
Valores de pH maiores ou igual 7 podem indicar a presença de bactérias que
alcalinizam a urina. Valores menores que 5,5 podem indicar acidose no sangue ou
doença nos túbulos renais.

O valor mais comum é um pH por volta de 5,5-6, porém, mesmo valores acima ou
abaixo dos descritos podem não necessariamente indicar alguma doença. Este
resultado deve ser interpretado pelo seu médico.
c) Glicose:
Toda a glicose que é filtrada nos rins é reabsorvida de volta para o sangue pelo
túbulos renais. Deste modo, o normal é não apresentar evidências de glicose na
urina.
A presença de glicose na urina é um forte indício de que os níveis sanguíneos
estão altos. É muito comum pessoas com diabetes mellitus apresentarem perda de
glicose pela urina. Isto ocorre porque a quantidade de açúcar no sangue está tão
alta, que parte deste acaba saindo pela urina. Quando os níveis de glicose no
sangue estão acima de 200 mg/dl, geralmente há perda na urina.
A presença de glicose na urina sem que o indivíduo tenha diabetes costuma ser um
sinal de doença nos túbulos renais. Isso significa que apesar de não haver
excesso de glicose na urina, os rins não conseguem impedir sua perda.
Basicamente, a presença de glicose na urina indica excesso de glicose no sangue
ou doença dos rins.
d) Proteínas:
A maioria das proteínas não são filtradas pelo rim, por isso, em situações
normais, não devem estar presentes na urina. Na verdade, existe apenas uma
pequena quantidade de proteínas na urina, mas são tão poucas que não costumam
ser detectadas pelo teste da fita. Portanto, uma urina normal não possui
proteínas.
Existem 2 maneiras de se apresentar o resultado das proteínas na urinaque seriam
em cruzes ou por uma estimativa em mg/dL:
Ausência = menos que 10 mg/dL (valor normal)
Traços = entre 10 e 30 mg/dL
1+ = 30 mg/dl
2+ = 40 a 100 mg/dL
3+ = 150 a 350 mg/dL
4+ = Maior que 500 mg/dL
A presença de proteínas na urina se chama proteinúria, pode indicar doença renal
e deve ser sempre investigada (Clique aqui e saiba
mais sobre proteinúria). O exame da urina de 24h é normalmente feito para se
quantificar com exatidão a quantidade de proteínas que se está perdendo na
urina.
e) Hemácias na urina / hemoglobina na urina / sangue na urina:
Assim como nas proteínas, a quantidade de hemácias (glóbulos vermelhos) na urina
é desprezível e não consegue ser detectada pelo exame da fita. Mais uma vez, os
resultados costumam ser fornecidos em cruzes. O normal é haver ausência de
hemácias (hemoglobina).

Como as hemácias são células, elas podem ser vistas com um microscópio. Deste
modo, além do teste da fita, também podemos procurar por hemácias diretamente
pelo exame microscópico, uma técnica chamada de sedimentoscopia. Através do
microscópio consegue-se detectar qualquer presença de sangue, mesmo quantidades
mínimas não detectadas pela fita.
Neste caso, os valores normais são descritos de duas maneiras:
- Menos que 3 a 5 hemácias por campo ou menos que 10.000 células por mL
A presença de sangue na urina chama-se hematúria e pode ocorrer por diversas
doenças, como infecções, pedras nos rins e doenças renais graves (Clique
aqui para saber mais sobre sangue no exame de urina). Um resultado falso
positivo pode acontecer nas mulheres que colhem urina enquanto estão na período
menstrual.
Uma vez detectada a hematúria, o próximo passo é avaliar a forma das hemácias em
um exame chamado "pesquisa de dismorfismo eritrocitário". As hemácias
dismórficas são hemácias com morfologia alterada, comum em algumas doenças como
a glomerulonefrite (Clique aqui para saber mais
sobre glomerulonefrite). É possível haver pequenas quantidades de hemácias
dismórficas na urina sem que isso tenha relevância clínica. Apenas valores acima
de 40 a 50% costumam ser considerados relevantes.
Não é todo laboratório que possui gente capacitada para executar esse exame. Por
isso, muitas vezes ele não é feito automaticamente. É preciso o médico solicitar
especificamente essa avaliação.
f) Leucócitos ou piócitos:
Os leucócitos, também chamados de piócitos, são os glóbulos brancos, nossas
células de defesa. A presença de leucócitos na urina costuma indicar que há
alguma inflamação nas vias urinárias. Em geral, sugere infecção urinária, mas
pode estar presente em várias outras situações, como traumas, uso de substâncias
irritantes ou qualquer outra inflamação não causada por um agente infeccioso.
Podemos simplificar e dizer que leucócitos na urina significa pus na urina.
Como também são células, os leucócitos podem ser contados na sedimentoscopia.
Valores normais estão abaixo dos 10.000 células por mL ou 5 células por campo.
Alguns dipsticks apresentam um quadradinho para detecção de leucócitos,
normalmente o resultado vem descrito como "esterase leucocitária". O normal é
estar negativo.
g) Cetonas ou corpos cetônicos:
Os corpos cetônicos são produtos da metabolização das gorduras. Normalmente não
estão presentes na urina. A sua detecção pelo dipstik pode indicar diabetes
mellitus mal controlado ou jejum prolongado.
h) Urobilinogênio e bilirrubina:
Também normalmente ausentes na urina, podem indicar doença hepática (fígado) ou
hemólise (destruição anormal das hemácias). A bilirrubina só costuma aparecer na
urina quando os seus níveis sanguíneos ultrapassam 1,5 mg/dL. O urobilinogênio
pode estar presente em pequenas quantidades sem que isso tenha relevância
clínica.
i) Nitritos:
A urina é rica em nitratos. A presença de bactérias na urina transforma esses
nitratos em nitritos. Portanto, fita com nitrito positivos é um sinal indireto
da presença de bactérias. Nem todas as bactérias tem a capacidade de metabolizar
o nitrato, por isso, exame de urina com nitrito negativo de forma alguma
descarta infecção urinária.
Na verdade, o EAS apenas sugere infecção. A presença de hemácias, associado a
leucócitos e nitritos positivos, fala muito a favor de infecção urinária, porém,
o exame de certeza é a urocultura.
A pesquisa do nitrito é feita através da reação de Griess, que é o nome dado a
reação do nitrito com um meio ácido. Por isso, alguns laboratórios fornecem o
resultado como Griess positivo ou Griess negativo, que é igual a nitrito
positivo e nitrito negativo, respectivamente.
j) Cristais:
Esse é talvez o resultado mais mal interpretado, tanto por pacientes como por
alguns médicos. A presença de cristais na urina, principalmente de oxalato de
cálcio, não tem nenhuma importância clínica. Ao contrário do que se possa
imaginar, a presença de cristais não indica uma maior propensão à formação de
cálculos renais.
Os únicos cristais com relevância clínica são:
- Cristais de cistina
- Cristais de magnésio-amônio-fosfato (estruvita)
- Cristais de tirosina
- Cristais de bilirrubina
- Cristais de colesterol
A presença de cristais de ácido úrico, se em grande quantidade, também deve ser
valorizada.
k) Células epiteliais e cilindros
A presença de células epiteliais é normal. São as próprias células do trato
urinário que descamam. Elas só têm valor quando se agrupam em forma de cilindro,
recebendo o nome de cilindros epiteliais.
Como os túbulos renais são cilíndricos, toda vez que temos alguma substância
(proteínas, células, sangue...) em grande quantidade na urina, elas se agrupam
em forma de um cilindro. A presença de cilindros indica que esta substância veio
dos túbulos renais e não de outros pontos do trato urinário como a bexiga,
ureter, próstata, etc. Isto é muito relevante, por exemplo, nos casos de
sangramento, onde um cilindro hemático indica o glomérulo como origem, e não a
bexiga, por exemplo.
Os cilindros que podem indicar algum problema são:
- Cilindros hemáticos (sangue) = Indica glomerulonefrite;
- Cilindros leucocitários = Indicam inflamação dos rins;
- Cilindros epiteliais = indicam lesão dos túbulos;
- Cilindros gordurosos = indicam proteinúria.
Cilindros hialinos não indicam doença, mas pode ser um sinal de desidratação.
A presença de muco na urina é inespecífica e normalmente ocorre pelo acúmulo de
células epiteliais com cristais e leucócitos. Tem pouquíssima utilidade clínica.
É mais uma observação.
Em relação ao EAS (urina tipo I) é importante salientar que esta é uma análise
que deve ser sempre interpretada. Os falsos positivos e negativos são muito
comuns e não dá para se fechar qualquer diagnóstico apenas comparando os
resultados com os valores de referência.
EAS (urina tipo I) normal:
Apenas como exemplo, o que segue abaixo é um modelo de como os laboratórios
apresentam os resultados do exame sumário de urina. Este exame está normal.
COR ---- amarelo citrino
ASPECTO ---- limpido
DENSIDADE ---- 1.015 (normal varia entre 1005 e 1030)
PH ---- 5,0 (normal varia entre 5,5 a 7.5)
EXAME QUÍMICO
Glicose ---- ausente
Proteínas ---- ausente
Cetona ---- ausente
Bilirrubina ---- ausente
Urobilinogênio ---- ausente
Leucócitos ---- ausente
Hemoglobina ---- ausente
Nitrito ---- negativo
MICROSCOPIA DO SEDIMENTO (sedimentoscopia)
Células epiteliais ---- algumas
Leucócitos ---- 5 por campo
Hemácias ---- 3 por campo
Muco ---- ausente
Bactérias ---- ausentes
Cristais ---- ausentes
Cilindros ---- ausentes
Entendendo o sistema urinário.
O que é
calculo renal.
Como
saber se você realmente tem calculo renal.
Causas da
formação do calculo renal.
Tratamentos para calculo renal.
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